Aqui estou sem codinome para o primeiro post como membro do clube. Serei responsável (na maioria das vezes) pelas postagens de lps mais ou menos contemporâneos, mostrando assim que o lp não é uma mídia datada mas sim eficiente e em voga. Alguns não sabem mas maioria das bandas do mundo ainda lançam seus álbuns em vinil, incluindo as do mainstream, como U2 e Coldplay. Aqui pelo Brasil, artistas como Pitty e Los Hermanos também chegam no mercado através do lp, e muitos outros que não cito por ignorância mesmo. A mídia hoje é bem alternativa e é destinada a um público diferenciado, os que nutrem a opiniões técnicas sobre o som do lp, seu caráter analógico, ou apenas porque as capas e encartes são maiores (como eu). Se a amplitude das ondas e a quantidade de frequências do lp é maior em relação ao cd, isso ainda é um mistério pra mim. Intuitivamente, sinto que soa melhor.
Nesse primeiro post, o terceiro e quarto álbuns solo de Panda Bear, nome de carreira de Noah Lennox, integrante do Animal Collective. Person Pitch, de 2007, foi ac
lamado por uma parcela da crítica e do público que trata da música alternativa, sendo álbum do ano pela Pitchfork Media e, pelo mesmo site, nono álbum da década. Avey Tare, integrante do Animal Collective, confessou que o disco influenciou o álbum da banda de 2009, Merriweather Post Pavilion, também aclamado pelo Pitchfork e por outros sites especializados. Ou seja, um sucesso duplo para Panda Bear. O disco desenvolve o som que o compositor tinha iniciado em canções do Animal Collective, algo mais otimista depois da fase vocal-lamuriosa que iniciou após a morte do pai. O interessante é que com Person Pitch, Panda Bear parece ter ganho espaço na sua própria banda, já que antes de 2007 os álbuns continham em sua grande maioria, canções de Avey Tare, no disco seguinte da banda, Strawberry Jam, ele tem sua marca em três canções, das melhores, e em Merriweather Post Pavilion, quatro, tendo duas delas virado singles e favoritas em apresentações ao vivo. A acessibilidade d
e sua música, escondida atrás de ruídos e efeitos, contribui para isso, a carga nostálgica também. O álbum sampleia Scott Walker, Tornados, Cat Stevens, The Equals, Kraftwerk entre outras bandas, mas é difícil reconhecer os samples, estão escondidos e modificados e misturados. Sem dúvida é um ótimo exemplo da nova psicodelia, a repetição e a simplicidade se tornam pura extravagância aqui e a ingenuidade dos arranjos é tratada de uma maneira quase minimalista. Dizer que isso é música eletrônica é exagero, dizer que isso é rock é ser simplista. É fruto da história da música embaralhada e batida no liquidificador, como é notado nas referências do encarte. De brasileiros temos Caetano Veloso e Tom Jobim, nomes disparatados como Jay-Z e Kylie Minogue, e clássicos absolutos como Beach Boys, Beatles, Kinks. Clássicos absolutos da eletrônica Basic Channel, Aphex Twin e Daft Punk estão na lista. E até uma deusa da ópera Maria Callas é citada. Black Flag, Basement Jaxx, Can e Roy Orbison também aparecem, para misturar mais ainda o bolo de influências. E é justamente isso que é Person Pitch, um bolo de aniversário infantil. A linda arte do álbum é de Agnes Montgomery, uma artista da Filadélfia que trabalha exclusivamente com colagem, ela realiza suas obras com cola e tesoura (!!) e depois as escaneia, seu trabalho foi o principal responsável da minha total satisfação na compra desse lp.
Panda Bear - Person Pitch
2007
Paw Tracks
Lado A - Comfy in Nautica/Take Pills
Lado B - Bros
Lado C - Good Girls/Carrots
Lado D - I'm Not/Search for Delicious/Ponytail
Produção: Panda Bear/Rusty Santos
Arte: Agnes Montgomery
Tomboy, de 2011, causou menos estouro, mas ainda sim um ótimo trabalho de Panda Bear, desenvolvendo outros temas, mais sérios e maduros. A instrumentação é concisa e consciente, muito embora o conteúdo das músicas seja livre e fluido, à propósito, a forma aqui é bem mais tradicional, sendo possível reconhecer versos e refrões. Duas marcas de Panda Bear ainda são encontradas aqui, seus vocais harmonizados em várias camadas, e seu tratamento de samples, basicamente ruídos e chiados, para álguns artistas, meros efeitos sonoros, para Lennox, parte da música e elemento compositivo. Surfers Hymn se tornaria um vazio de um sample percussivo e uma bateria se não fossem as ambi
entações usadas. Os Beach Boys estão aqui, na música citada, em Alsatian Darn e, principalmente, em Last Night at the
Jetty. À medida que o som desse músico vai amadurecendo, vai se tornando mais pop, mas ao mesmo tempo, também mais temperado, mais mastigado, como se ele estivesse ficando realmente acostumado a fazer isso, e a fazer isso naturalmente. E se é possível prever que ele nunca vá soar como os Strokes, ou Arctic Monkeys, não posso duvidar que aconteça o contrário.
Panda Bear - Tomboy
2011
Paw Tracks
Lado A - You Can Count on Me/Tomboy/Slow Motion/Surfer's Hymn/Last Night at the Jetty/Drone
Lado B - Alsatian Darn/Scheherezade/Friendship Bracelet/Afterburner/Benfica
Produção: Peter Kember, aka Sonic Boom (Spacemen 3)
Arte: Scott Mou (antigo companheiro, no duo eletrônico-experimental Jane)